O surpreendente sucesso das manifestações na Tunísia - apesar do governo do presidente em fuga estar grandemente intacto - parece ter inspirado a "rua árabe". Clamores continuam-se a ouvir no Iémen, na Jordânia e no Líbano. Mas é no Egipto que o reviralho está mais perto de acontecer. Os optimistas de sempre, depositam grandes esperanças nesta revolta popular.
Também surpreendentemente, no Egipto o único "cão que não ladra" é a Irmandade Muçulmana. O regime de Mubarak teme-os muito mais do que os jovens manifestantes da classe média, que gaseia pacientemente com gás-pimenta nas ruas do Cairo e Alexandria. Em certa medida, os revoltosos são "gente do passado", descendentes dos nacionalistas seculares da geração imediatamente anterior à dos chamamentos da sereia do islamismo. Sonham com aquilo que nós chamamos de "sociedade aberta", com eleições multipartidárias e com todas as garantias de uma democracia constitucional: liberdade de expressão, segurança das pessoas e bens, leis seculares e pouca corrupção, igualdade de oportunidades, etc.
Analisando um pouco mais de perto a sociedade egípcia, facilmente concluiremos que uma sociedade do tipo Ocidental é muito difícil de construir mesmo neste país árabe relativamente avançado. Só a título de exemplo, os iliterados são o triplo das pessoas que possuem alguma instrução.
Do ponto de vista Ocidental, o povo manifestante é considerado a classe média. São aqueles que beneficiariam de um tipo de governo constitucional como os que existem na Europa. São também exactamente estes que mais sofreriam se o poder caíssem nas mãos da Irmandade Muçulmana. Constitutuem, de uma maneira geral, a mesma classe social que se revoltou em 1979 no Irão e acabou por ser massacrada pelo regime dos ayatollahs. Cá para mim, e espero que me engane, o que estamos a assistir no Egipto é a derradeira "cartada de mão" para atingir o poder daquilo que poderemos chamar a classe média egípcia.
A maioria dos ocidentais finge não saber que a Irmandade Muçulmana pode colocar muito mais gente na rua. Podem subverter a lealdade da polícia e dos militares, já ressentidos com os endinheirados da burguesia e transformar as grandes cidades do Cairo e de Alexandria num caldeirão revolucionário islamista. Para já permanecem neutrais porque esta não é a sua revolução, e devem ver com agrado, o regime autocrático de Mubarak e a classe média frustrada, a enfraquecerem-se mutuamente. O seu momento chegará quando Mubarak cair.
No Líbano, o Hezbollah efectivamente tomou o poder, e a mesma classe média que em 2005 foi para a rua demonstrar o seu desgosto e que brevemente triunfou na Revolução de Cedro, está hoje completamente subjugada pelos islamistas porque são eles quem têm as armas e a vontade de poder. E a sociedade aberta libanesa é hoje uma coisa do passado...acabou.
E aqueles que se sentem esperançosos sobre o destino do Egipto devem explicar e fundamentar as razões do seu optimismo.
3 comments:
Eu sei, as probabilidades de se implantarem governos de vertente democrática são dificeis em ambos os casos, Tunísia ou Egipto. Mas depois de conhecer casos ncomo o da blogger Tunisina Lina Ben Mhenni, fico com a esperança vaga que daqui possa aparecer gente para quem a liberdade se torne um valor maior...
Abraço
Vamos ver. A História não está pelo lado dela mas ás vezes acontecem milagres. Não é fácil reformar uma civilização cuja religião ainda vive no séc. VII.
Abraços.
Egipto e o símbolo do islam.
Entretanto vão vendo se no Egipto usam o símbolo nas manifestações, e se usam, quantas vezes o fazem.
Porque nota-se claramente que os eruditos directa ou indirectamente já deram ordens para não ser usado.
E porquê?
Porque recentemente os obrigámos a isso, quando descobrimos que esse símbolo era o que mais insultava maomé.
Esta é uma verdadeira revolução silenciosa e que está mesmo a acontecer nos nossos dias, o fim do uso do símbolo do islam.
Bastou a palavra da verdade para fazer muito mais do que bombas e exércitos podiam fazer.
Neste caso a maometanagem foi total e completamente derrotada.
Nem piam.
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