Monday, May 12, 2008

Pearl Harbour vs 11 de Setembro (1)


Como disse Walter Benjamin, há muitos factos históricos atirados para o "caixote do lixo da História". Mas é perigoso quando uma caricatura substitui por completo um facto histórico. Com a classificação do 11 de Setembro como "homeland Attack", estabeleceram-se analogias diversas com a abertura da frente do Pacífico na II Guerra Mundial iniciada, como sabemos, com o ataque aéreo do Japão á base naval americana de Pearl Harbour. Com isso, os Kamikaze, que no Ocidente são vistos como fanáticos nacionalistas e imperialistas de sorriso nos lábios ao amanhecer, erguendo a sua taça de saké rumo a uma morte certa, passaram a ser o arquétipo de bombistas suicidas. Não pode haver maior injustiça. Em primeiro lugar, em 1941 não tinha sido criada a força de combate japonesa denominada Tokkotai de que faziam parte os pilotos kamikaze. Assim em Pearl Harbour, os pilotos japoneses executaram a sua missão com os aviões equipados para regressar aos porta-aviões. Os Tokkotai que voaram em 1944 e 45 não eram bombistas suicidas. Eram enviados em missões de bombardeamento, sem regresso e morriam necessáriamente em combate.
Dos cerca de quatro mil pilotos Tokkotai, perto de 3000 eram adolescentes escolhidos num programa de recrutamento especial destinado a formar rapazes muito novos. À volta de mil, eram "soldados-cadetes", estudantes universitários a quem o governo encurtava a formação para os integrar nas fileiras. Eram muito introspectivos e cosmopolitas. Muitos deles eram politicamente liberais ou mesmo radicais de esquerda, em segredo. Não se ofereceram como voluntários, é mais correcto dizer, que não lhes foi dada qualquer alternativa. Deixaram escritos: ensaios, poemas, diários, cartas. Estes são testemunhos da luta que travaram para encontrar sentido numa morte que sentiam ser-lhes imposta por decreto.

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