Os jornais e noticiários da comunicação social europeia estão prenhes de Ricardos Garcias. Alarmistas e mentirosos quanto baste, vão pregando, para os incautos acreditaren que o apocalipse está ao virar da esquina. Foi o buraco do ozono, o falecido aquecimento global, agora a modinha é a radiação proveniente de Fukushima. Tudo serve para incutir medo nas populações.
Deixo aqui um excelente texto do blog Regresso-a-Itaca sobre este assunto:
Máscaras, mascarilhas, medo nuclear e a rainha Santa Isabel
"Mais de duas semanas depois do sismo de 11 de Março, a grande preocupação que chega à Europa é a radioactividade. O problema existe? Sem dúvida que sim. Mas longe, muito longe, da forma como é retratado na comunicação social europeia. Alguns dados objectivos para sossego lontano: o nível de radioactividade em Tóquio é, apesar de acima do que era antes do problema com a Central de Fukushima, muito baixo. A semana passada, o nível em Tóquio era equivalente a algumas capitais europeias e mesmo abaixo de algumas delas. Para os mais desconfiados, acrescento que são dados de medições europeias e não japonesas.
Isto é notícia? Não é. E como não há nada de mais excitante (uma guerrazita na Líbia não vende tão bem como um "apocalipse nuclear" - palavras da Newsweek a cavalgar declarações bombásticas de responsáveis bruxelenses), eis agora que a excitação anda em torno das pessoas em Tóquio que usam máscara.
A ver se nos entendemos com isto: em Tóquio, e na Ásia em geral, o uso da máscara no espaço urbano generalizou-se há muito. Em primeiro lugar por causa do receio de vírus e doenças (a célebre gripe SARS teve um papel fulcral aqui). Depois, por uma questão de civismo. Qualquer pessoa que esteja constipada ou numa ressaca de gripe põe de imediato uma máscara para evitar contaminar quem está à volta (as pessoas aqui vivem muitas vezes compactadas no metro ou no local de trabalho). Depois, de há uma semana para cá, viu-se, efectivamente, um aumento das máscaras. Medo do nuclear? Não. Medo do pólen. A primavera está a começar em força, há milhares de flores a despontar e há nuvens de pólen que provocam alergias. Para se protegerem, as pessoas usam a máscara preventivamente, em vez de se enfrascarem em anti-estamínicos posteriormente. Finalmente: uma revista trazia outro dia (antes do terramoto) uma reportagem onde se explicava que o uso desta máscara se tornou uma espécie de moda entre grupos de adolescentes e jovens, um sinal de tribo, marca distintiva que confere ao grupo um signo próprio e que mascara uma timidez por vencer.
Por isso, quando virem prosa debitada por pena europeia que descreve um povo amedrontado pelo inimigo invisível que vem de Fukushima, desconfiem. Não é o nuclear. Como diria a rainha Santa Isabel: são as rosas, Senhor."