Monday, July 5, 2010

Actualidade Turca


" O pai de Safie fora o causador da sua ruína. Era um comerciante turco que, depois de ter vivido em Paris durante muitos anos, veio a tornar-se, por motivos que não consegui apurar, suspeito aos olhos do governo. Foi detido e lançado para a prisão no próprio dia que Safie chegava de Constantinopla para se lhe juntar. Foi julgado e condenado à morte. A injustiça daquela sentença era flagrante e pensou-se que a religião que professava e a sua fortuna, mais do que o crime de que era acusado, tinham constituído a verdadeira razão da condenação.



Por acaso Félix tinha assistido ao julgamento. Ao ouvir o veredicto do tribunal, não pode dominar a sua indignação. Nesse momento jurou para si mesmo libertar aquele homem e começou imediatamente a procurar à sua volta os meios de o conseguir.


(...) Durante a noite, Félix aproximou-se da janela da prisão e deu a conhecer ao prisioneiro as suas intenções em seu favor. O turco surpreso e feliz, tentou estimular o zelo do seu salvador com promessas de recompensas e riquezas. Félix rejeitou, com desprezo essas ofertas; todavia quando viu a encantadora Safie, que tinha autorização para visitar o pai, e quando ela por gestos lhe exprimiu todo o seu reconhecimento, o jovem não pôde deixar de pensar que o prisioneiro possuía um tesouro que o recompensaria plenamente dos seus esforços e dos riscos que corria.


Breve o turco se apercebeu da impressão que sua filha havia produzido em Félix, e tentou atraí-lo ainda mais para a sua causa, prometendo-lhe a mão de Safie logo que fosse conduzido a lugar seguro.


(...) Safie contava que sua mãe era uma árabe cristã, capturada e cativa pelos turcos. Graças à sua beleza, tinha seduzido o pai de Safie que a havia desposado. A jovem falava com admiração daquela mãe que, livre por nascimento, desprezava a servidão a que se encontrava agora reduzida. Ensinou à filha os princípios da sua religião e deu-lhe o gosto de uma cultura e de uma independência proibidas às mulheres maometanas. Essa mulher morreu, mas os seus ensinamentos ficaram para sempre gravados no espírito de Safie que ficava perturbada com a ideia de voltar para a Ásia e ser encerrada entre os muros de um serralho. (...)


O turco consentia nessa intimidade e encorajava a esperança dos jovens amantes, mas formava no seu íntimo, projectos bem diferentes. Não podia suportar a ideia de ver a sua filha unida a um cristão (...)


Revolvia no espírito mil e uma maneiras para prolongar o engano até ao momento em que ele deixasse de ser necessário, para levar secretamente a sua filha consigo no momento da partida. (...). "

Este texto foi escrito em 1818 no célebre romance Frankenstein de Mary Shelley. Ao contrário de toda a ficção do resto do livro que, felizmente não se veio a realizar, este excerto representa a crua realidade da dupla face dos muçulmanos, e da relação de escravatura que impõem às mulheres e aos Cristãos. Podemos verificar pelos acontecimentos diários nas terras que Corão governa que este texto é bastante actual, e diria mesmo, moderado.

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