Monday, February 22, 2010

Temporais...

O 25 de Abril e a III Republica coincidiram no tempo com o shift climático de 1975. O resultado mais visível desta variação na meteorologia, foi a estabilidade do anti-ciclone do Açores sobre a Península Ibérica e arredores. Este centro de altas pressões duradouro, tornou, por longos períodos, a superfície do território português mais quente, favoreceu a fraca precipitação tornou os invernos mais solarengos e os verões mais quentes. A partir dos anos 90 foi o principal argumento dos adventistas do aquecimento global e os papalvos engoliram a dose servida, com apetite. Foi também neste período que o regime caiu na idiotia militante. A “longa noite fascista” tinha acabado e o sol brilhava para todos nós. Importaram-se toneladas de telenovelas brasileiras e venezuelanas e os portugueses reviram-se, não só no futebol, como o Brasil da Europa. O famoso sol português foi vendido mais aos portugueses do que a estrangeiros, a boa comida e o bom vinho português… as praias. A juventude portuguesa abrasileirou-se e despiram-se de frio em diversos carnavais de autarquias terceiro mundistas. Alguns tornaram-se “californianos” Beach Boys, e empoleirados em pranchas de surf, fizeram da infusão em água salgada, um modo de vida. O lusitano tornou-se tropicano e Portugal tornou-se tropical. O stalinista Prémio Nobel, destilando ódio, cortou a Península Ibérica e mandou-a para Sul. Destino de chegada? As Caraíbas... talvez Cuba. Regiões quentes, portanto.
Os 3 últimos anos parecem indicar que um shift climático aconteceu novamente e os Invernos obscuros e rigorosos e a alta pluviosidade estão de volta. O que não está de volta é a racionalidade e a seriedade. A tragédia que se abateu sobre a ilha da Madeira foi classificada quase unanimemente por temporal. No meu entender, temporal é um conceito de menor magnitude do que tempestade. O temporal é um inho da tempestade. Tempestade é algo se só acontece “lá fora”, onde não há sol. Este conceito, nunca é utilizado nos meios de comunicação em Portugal. Porquê? Rigorosamente não sei, mas parece-me que está relacionado com a imagem que os portugueses têm de si próprios e do país onde vivem. Mais concretamente os portugueses que têm por função escolherem as palavras com que “determinam” a realidade, isto é, a comunicação social. Um temporal como fenómeno passageiro, talvez se enquadre melhor no Portugal tropical de que acima falámos.
Talvez por isso a SIC Notícias se mostre "aparvalhada" quando trata de informar sobre o Inverno. Que tempo! exclamam, como quem diz...isto não estava nas previsões da... tradição.
Talvez por isso tenhamos um corpo especial de Bombeiros que se chamam Canarinhos. Esperemos, para bem de todos, que acção deste corpo no terreno, não seja tão ridícula quanto o seu nome indica, seja menos de ornamentação e mais de eficiência. Eu por mim tinha-lhes chamado, Bombeiros Galinhos de Barcelinhos. Pelo menos era mais português.
O próprio Instituto de Meteorologia nos seus reports que faz para a comunicação social, embarca neste espírito de bonança cultural. Todos nós sabemos como acabam. Após a informação mais ou menos técnica que prestam sobre a situação meteorológica, adiantam sempre que o pior já passou e o sol está de regresso passado x horas. Em pleno Outono, após uns dias de ventos fortes, trovoadas e grandes chuvadas, a senhora do Boletim Meteorológico descansava a malta, dizendo que no fim-de-semana o tempo iria estar "normal" e que os portugueses poderiam ir para a praia… em fins de Outubro.
As imagens da Madeira não são a de um temporal. São de uma grande tempestade que provocou meia centena de mortos. Enquanto fenómenos meteorológicos são classificados como mini-tornados ou furacõezinhos, as populações, por muitos alertas coloridos que se façam, continuam convencidas que o mau tempo só acontece aos outros, lá fora.

Madeira Storm February 20, 2010 from Wind Birds on Vimeo.

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